O Ministério da Cultura (MinC), por meio da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural (SCDC), promoverá, em novembro deste ano, a sexta edição do Encontro Nacional dos Pontos de Cultura, a TEIA Nacional. O evento, que dessa vez ocorrerá em Salvador (BA), irá reunir representantes de Pontos e Pontões de Cultura de todo o Brasil para a discussão do tema Economia Viva, também conhecido por economia da cultura, solidária ou colaborativa.
Entre os dias 15 e 17 de março, cerca de 40 pessoas se reuniram com representantes da SCDC, em Brasília, para a definição das principais diretrizes do evento, como o período e o local do encontro ocorrerá, o tema e um esboço preliminar da programação.
“A gente entende que quem produz cultura hoje produz valor. Os Pontos de Cultura fazem parte de uma rede enorme de microeconomia, com a produção de riqueza real, concreta e simbólica. Queremos valorizar todas as riquezas que advêm dessa produção cultural”, afirma a secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural, Ivana Bentes, salientando a relevância do tema.
O conceito de economia da cultura abrange uma série de atividades, cuja principal matéria-prima está no repertório simbólico de territórios e povos. Integram esse grupo setores diversos, entre os quais audiovisual, artes cênicas, literatura, artesanato e música. A riqueza – real e simbólica – por eles produzida compreende não apenas bens materiais, tais como o próprio artesanato, livros e CDs, mas ainda qualquer espetáculo, seja ele de música, teatro ou dança. Há ainda um capital simbólico capaz de ser quantificado, reflexo do próprio fazer arte – algo que permite, inclusive, manutenção e perpetuação de determinada cultura.
Nesse contexto, Ivana destaca o caráter histórico-social da Economia Viva, que tem seus pés fincados justamente nas comunidades tradicionais. “O Brasil é um laboratório das novas economias. Por mais de 500 anos, os grupos de base comunitária sobreviveram à experiência da economia da cultura, com valores como o da colaboração, da troca e da solidariedade. Hoje, as novas economias, que agregam moedas complementares e financiamento coletivo (crowdfunding), são justamente o que há de mais sofisticado no mundo. [Ao trazer o tema para a TEIA] estamos mostrando que aquilo que há de mais básico e tradicional na nossa cultura é a saída de um modelo de sociedade que está em crise”, diz.
Além de representante de diversas secretarias e vinculadas do MinC, a reunião em Brasília contou com representantes da Secretaria Estadual de Cultura da Bahia, da Fundação Pedro Calmon e da Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Previdência Social, todos parceiros da SCDC na concepção e realização do evento.
“A economia solidária pulsa no seio de todos os Pontos de Cultura. Ela está presente no cotidiano desses Pontos, seja por aqueles que formam, negociam ou adquirem algum produto. Mesmo quando não há nenhum serviço a se ofertar, eles normalmente trabalham com a prática solidária”, afirma Luciana Mota, da Fundação Pedro Calmon.
Para a diretora de Cidadania Cultural da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, Luisa Saad, o tema surge ainda como uma emergência para o atual contexto sociopolítico e econômico do Brasil. “Acho que esse tema é bem propício para o nosso contexto atual de crise, já que não se trata de uma crise econômica apenas, mas também ética e de valores. Acho que a cultura tem muito a contribuir para essa discussão, trazendo novas formas de economia na colaboração solidária para a manutenção da democracia, inclusive, por meio da participação popular pela cultura”, diz.
Mãe Isabel, como é conhecida Isabel Cristina Alves, também foi uma das participantes do encontro de planejamento da TEIA. Ela é criadora da Grife Criolê, empreendimento solidário de Hortolândia, no interior de São Paulo. A marca de roupas é uma das ações do Ponto de Cultura Caminhos.
“A economia solidária é uma economia transformadora. Ela provoca transformação porque é econômica, pois não deixa de pensar o dinheiro. Mas nela, a centralidade é o ser humano e não o capital. Ela é um contraponto à economia capitalista, que tem esse aspecto social. Ela trabalha justiça social, igualdade, democracia, gênero, entre outros”, afirma mãe Isabel.
Encontro Nacional dos Pontos de Cultura
As Teias Nacionais são encontros dos Pontos e Pontões de Cultura e das comunidades envolvidas com a Política Nacional de Cultura Viva de todo o país, para promover uma mostra ampla e diversificada da produção cultural dos Pontos, debater a cultura brasileira e suas expressões regionais, propor estratégias de políticas públicas culturais e analisar e avaliar o programa.
No âmbito nacional, já foram promovidas pelo Ministério da Cultura cinco edições: Venha Se Ver e Ser Visto, em São Paulo (2006); Tudo de Todos, em Belo Horizonte (2007), Iguais na diferença, em Brasília (2008); Tambores Digitais, em Fortaleza (2010), e Teia Nacional da Diversidade, em Natal (2014).
A TEIA Nacional normalmente é antecedida por TEIAs e fóruns estaduais, que além de atuarem para o fortalecimento da Política Nacional de Cultura Viva por meio da troca de experiências e do aprimoramento das ações dos Pontos de Cultura nos estados e municípios, elegem os delegados que representarão seus territórios no evento nacional.