Religiões de matriz africana fazem ato contra intolerância

Dezenas de representantes de religiões de matriz africana se reuniram no fim da tarde dessa sexta-feira (15) na Praça dos Orixás, em Brasília, para um ato contra intolerância religiosa e de louvação a Oxalá. Isso porque, no início desta semana, uma estátua do orixá foi incendiada no local, um espaço tradicional e de referência dos povos de comunidades tradicionais de matrizes africanas do Distrito Federal.

Imagens de orixás depredadas
Imagens de orixás depredadas

Cida Abreu, presidenta da Fundação Cultural Palmares (FCP), entidade vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), acompanhou o ato voltou a destacar que o combate à intolerância religiosa é uma das bandeiras do ministério. “A intolerância religiosa ataca os filhos do Brasil independente de quem ele seja. As pessoas têm que entender que o território brasileiro é feito para todos. Nós temos no mundo várias intolerâncias. Mas no Brasil, um país continental que aporta várias etnias e que recebe todos de braços abertos, é inadmissível não termos a liberdade para professar a nossa fé. Nós vamos, sim, responder a qualquer ato de intolerância”, afirmou.

De acordo com nota divulgada pela Palmares no início da semana, uma testemunha que passava pela praça na ocasião presenciou a estátua em chamas e acionou o Corpo de Bombeiros e líderes religiosos, buscando orientações sobre como proceder. O caso foi registrado na 1ª Delegacia de Polícia Civil (Asa Sul) pela Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e do Entorno e, posteriormente à Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin), instaurada em 21 de janeiro deste ano, fruto de uma parceria entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a FCP.

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Um inquérito foi instaurado pela Decrin para apuração dos fatos e oitiva de testemunhas com o objetivo de identificar a autoria do incidente e, se for o caso, enquadrá-lo como mais um caso de intolerância religiosa.

“Somos a resistência do Brasil e aqui estamos para dizer que o país é laico – ao menos é o que dizem ser. A Prainha é um lugar de celebração para nós, um terreiro público e a céu aberto. Não podemos tolerar um ato como este”, afirmou a ialorixá Mãe Baiana, chefe do Departamento de Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares.

Presidenta da Fundação Palmares Cida Abreu participou do ato
Presidenta da Fundação Palmares Cida Abreu participou do ato

Casos de desrespeito e de intolerância religiosa vêm se tornando comuns no Brasil, especialmente em Brasília e seu entorno. De acordo com a Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno, somente no ano passado, 15 terreiros foram atacados. Também em 2015, o Disque 100 (do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, Juventude e dos Direitos Humanos) registrou 705 crimes de intolerância religiosa entre atos de vandalismo, perseguição e racismo no Brasil.

Para o babalorixá Joel Osogiyan, mais do que tolerância, os praticantes de religiões de matrizes africanas querem respeito. “A gente não quer só ser tolerado, a gente quer ser respeitado. Além de um ponto turístico, essa é uma praça religiosa. Atacar a estátua de Pai Oxalá é atacar as nossas essências, os nossos terreiros, é agredir o nosso sagrado”, destacou.

Praça dos Orixás

Oxóssi ao fundo

Esta não é a primeira vez que a Praça dos Orixás é alvo de vandalismo. Após sucessivas depredações das 16 estátuas de orixás que abriga, o local foi reinaugurado em dezembro de 2009. Na ocasião, os monumentos passaram por um processo de restauração que durou dois anos e contou com um investimento total da ordem de R$ 730 mil.

As estátuas foram produzidas pelo artista baiano Tatti Moreno e são réplicas das esculturas instaladas no Dique do Tororó, em Salvador. Elas representam entidades de religiões africanas e a fusão desta cultura ao cenário brasileiro.

Cristiane Nascimento
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura

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