Relatora da ONU sobre os direitos dos povos indígenas conhece ações do MinC

O ministro da Cultura, Juca Ferreira, recebeu, nessa segunda-feira (7), a relatora especial das Nações Unidas sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz. A relatora visita o Brasil entre 7 e 17 de março para identificar e avaliar as principais questões que os povos indígenas enfrentam no País.

Durante o encontro, Victoria fez uma série de perguntas – que foram da proteção de línguas à demarcação de terras – ao ministro e a dirigentes do Ministério da Cultura (MinC). O objetivo foi entender as ações da pasta em relação aos povos indígenas. Na ocasião, ela destacou que a proteção aos direitos indígenas passa pela proteção aos direitos culturais.

Relatora durante agenda na Câmara Federal. Foto: Paula Moraes
Relatora durante agenda na Câmara Federal. Foto: Paula Moraes

Para exemplificar, a relatora se lembrou de um caso na Noruega em que povos indígenas foram proibidos de pescar em barcos. “O processo usou a cultura como argumento (para liberar a pesca desse modo). A pesca corresponde ao meio de vida deles e está ligada à cultura de subsistência”, explicou.

O ministro Juca Ferreira, que tem a questão indígena como pauta prioritária no Ministério, enfatizou que é preciso apoiar os índios na manutenção de suas tradições e línguas e, ao mesmo tempo, empoderá-los para que possam enfrentar os desafios do século 21. O ministro destacou, ainda, que os povos indígenas passam por um momento difícil, com registros de crimes ocorridos até com crianças indígenas.

Proteção às línguas e tradições indígenas

A presidenta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Jurema Machado, lembrou que existe um trabalho de reconhecimento e de promoção da tradição indígena no Brasil. Diversos sítios, saberes e expressões indígenas são registrados no Iphan como Patrimônios Culturais do Brasil. Jurema falou ainda sobre aproximação do Iphan com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o trabalho de valorização dos sistemas agrícolas ligados a povos indígenas.

Povos indígenas pedem reconhecimento do Kuarup como patrimônio imaterial. Fotos de Oliver Kornblitt
Povos indígenas pedem reconhecimento do Kuarup como patrimônio imaterial. Fotos de Oliver Kornblitt

Jurema Machado também respondeu pergunta da relatora das Nações Unidas sobre a existência de dados de línguas indígenas. “Há registros na Funai e em universidades brasileiras. Calcula-se a existência de 180 a 270 línguas”, afirmou. A presidenta do Iphan lembrou que o Brasil mantém parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Cultura e a Ciência (Unesco), que prepara mapa de línguas em perigo e a vitalidade de cada uma delas, e reconheceu que os projetos de conservação de línguas indígenas ainda estão aquém do ideal.

Intercâmbios

A secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes, falou sobre o prêmio Pontos de Cultura Indígena, lançado no ano passado. Para ela, o edital significou uma retomada de contato do ministério com povos indígenas e possibilitou um mapeamento de diversas inciativas culturais. “Recebemos cerca de 800 propostas de projetos culturais de povos indígenas, que tratavam de rituais e do uso de novas tecnologias para manutenção da língua e produção de mídia”, comentou.

O diretor de Relações Internacionais do MinC, Gustavo Pacheco, lembrou que existem ações de intercâmbio com países vizinhos em relação a povos indígenas situados em espaços de fronteira. “Na Colômbia, por exemplo, há quatro projetos em andamento de territórios sagrados e línguas”, informou. O diretor citou também a existência de um fórum de representantes indígenas no Mercosul, mas reconheceu que ainda há muito a fazer nesse âmbito.

Gustavo Pacheco lembrou também o caso da foto de um casal de índios botocudos, com dorso nu, publicada na fanpage do MinC, que foi bloqueada pelo Facebook. O fato ocorreu em abril do ano passado e serviu como estopim para o desenvolvimento de políticas internacionais para tratar da ação de grandes plataformas digitais que, muitas vezes, resultam na violação de direitos culturais. A censura é vista pelo Ministério como violação à Constituição Federal e a tratados internacionais de promoção e defesa da diversidade cultural.

Por fim, Pacheco citou outras ações pontuais da pasta, como a premiação de indígenas na Ordem do Mérito Cultural e atividades voltadas aos indígenas dentro da programação cultural que será promovida pelo MinC nas Olimpíadas de 2016.

Agenda

Participação da relatora no ritual do Moitará no Memorial dos Povos Indígenas em Brasília. Foto: Acácio Pinheiro/Minc
Participação da relatora no ritual do Moitará no Memorial dos Povos Indígenas em Brasília. Foto: Acácio Pinheiro/Minc

A relatora da ONU cumpre agenda no Brasil de 7 e 17 de março com o objetivo de identificar as violações aos direitos e as dificuldades enfrentadas pelos indígenas no país. Em setembro, o relatório com as conclusões e as recomendações da relatora deverá ser encaminhado ao governo brasileiro e ao Conselho de Direitos Humanos da ONU. Além da capital, Victoria deverá visitar os estados de Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará, territórios que vivem graves crises de violência contra a população indígena.

“A cultura dos povos indígenas é profundamente conectada com suas terras e com o modo de subsistência que fazem deles uma população indígena. A luta do povo indígena é pelo direito de continuarem cultivando seu conhecimento tradicional para proteger as terras às quais pertencem – conhecimento esse que pode salvar a terra da destruição. Nessa relação entre lutas e esperança, prevalece não apenas a luta por suas terras, mas uma conexão com o seu passado, seu presente e seu futuro”, destacou a relatora da ONU.

Com informações de Cecilia Coelho e Cristiane Nascimento
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura
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