Os Pontos de Cultura e a produção audiovisual alternativa

Divulgado na última semana, o artigo Os Pontos de Cultura e a Produção Audiovisual Alternativa, do pesquisador Júnior Pinheiro, reflete sobre a influência das políticas públicas desenvolvidas nos últimos anos e as novas saídas e fórmulas da produção audiovisual independente no país. Segundo Pinheiro, o acesso às tecnologias, bem como a formação em cultura digital e a capacitação técnica foram aspectos fundamentais para isso.

Dividido em 6 capítulos, o artigo fala de mídia e exclusão sociocultural, alternativas à grande mídia, as TVs populares, o porque do vídeo, a relação do audiovisual nos Pontos de Cultura, do cyberpunk e do vídeo popular contemporâneo. Leia na íntegra o capítulo que aborda os Pontos de Cultura:

Os Pontos de Cultura e o Vídeo no Ponto

Durante a gestão de Gilberto Gil à frente do Ministério da Cultura (2003 a 2008), seguindo a linha política de inclusão do governo de Luís Inácio Lula da Silva; foi desenvolvido um programa voltado à difusão e ampliação dos meios de formação, criação, difusão e fruição de cultura e seu acesso aos cidadãos em situação de risco ou exclusão social. Trata-se do Programa Cultura Viva – Cultura, Educação e Cidadania, instituído em julho de 2004 (BRASIL, 2010).
Cópia de Foto_Vídeo nas Aldeias (VNA)Dentre as políticas públicas deste programa figuram os Pontos de Cultura, unidades locais voltadas à potencialização de ações culturais e que são desenvolvidas por meio de parceria entre o Ministério da Cultura e a sociedade civil organizada – na forma de associações e instituições educacionais. Este pacto com o Estado fortalece e permite um maior reconhecimento destas organizações culturais.

Os Pontos de Cultura tiveram rápida assimilação pelas localidades onde foram implantados, pois estes nada criam, nem inventam, mas apenas ampliam as ações e permitem realizações de anseios já existentes no seio de determinada comunidade. Assim, é possível encontrar Pontos de Cultura vinculados às mais diversas formas de fazeres culturais, pois “o conceito de Ponto de Cultura é o que eles já praticam: trabalho compartilhado e o desenvolvimento de atividades culturais respeitando a autonomia e o protagonismo das comunidades” (TURINO, 2010, p.17). Adequando-se às recomendações do Programa Cultura Digital – outra ação do Cultura Viva – além de recursos para execução de suas propostas, cada Ponto recebe um conjunto de equipamentos voltados à produção audiovisual. Este kit conta com câmeras fotográficas, filmadoras e computadores equipados com softwares livres voltados à manipulação de áudio e imagem e ainda com conexão à Internet banda larga (BRASIL, 2010).

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Dentre as várias atividades que podem ser desenvolvidas pelos PCs, diante da abrangência do programa, o audiovisual acaba por se constituir como um fim em si mesmo, pois estes Pontos podem desenvolver ações voltadas à exibição e formação de novos públicos ou à produção de filmes diversos. Ainda, podem se configurar como meio de comunicação, enquanto rádios e tevês comunitárias ou coletivos de vídeo independente, pelos quais se dá o registro e a difusão de conteúdos locais.

Um aspecto interessante dos Pontos de Cultura é a sua organização em redes regionais, estaduais e nacionais, as Teias, executadas por meio de encontros presenciais e fóruns online. Estas redes facilitam o diálogo e a cooperação entre os Pontos, que trocam experiências e conhecimentos. Dentre as ações desenvolvidas pelos PCs, figura também a realização de oficinas de qualificação voltadas à comunidade e aos próprios ponteiros, como são denominados os envolvidos com o projeto. Graças às colaborações e trocas, os protagonistas culturais e os ativistas midiáticos se capacitam para produzir e distribuir sua própria produção audiovisual, por meio da Internet.

De posse dos meios de produção e difusão e capacitados para levar à frente experiências de realização audiovisual independente, os Pontos de Cultura trazem um novo fôlego ao vídeo alternativo, uma vez que suas raízes, quase sempre, são as mesmas daqueles grupos que iniciaram o movimento do vídeo popular na década de 1980: as comunidades sem voz e sem espaços positivos nos meios de comunicação comerciais e sem apoio das gestões governamentais.

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“O empoderamento social nos Pontos de Cultura pode provocar transformações que vão muito além da cultura em um sentido estrito e desencadear mudanças nos campos social, econômico, de poder e valores. Ao concentrar sua atuação nos grupos historicamente alijados das políticas públicas (seja por recorte socioeconômico ou no campo da pesquisa e experimentação estética), o Ponto de Cultura potencializa iniciativas já em andamento, criando condições para um desenvolvimento alternativo e autônomo, de modo a garantir sustentabilidade na produção da cultura. É a cultura entendida como processo e não mais como produto”. (TURINO, 2010, p.37)

Ao associar a posse dos equipamentos, sua técnica e produção, seja ela social, cultural ou etnográfica, aos seus desafios cotidianos, as comunidades apropriam-se da linguagem dos meios de comunicação e dão a ela uma ressignificação própria, que muito se parece com aquela da primeira imprensa: ouvir a sociedade, dar espaço às suas manifestações e cobrar do poder público ações de valorização da vida nestas localidades.

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