É feita de afeto a rede de coletivos e entidades culturais que vem se armando há uma década na América Latina em torno da economia solidária, da democracia participativa e do bem viver. Não à toa, uma das imagens que ficam do 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária é a da plenária final, com todos juntos no gramado na Concha Acústica da Universidade de El Salvador, sorridentes, comemorando o encontro e convocando para o próximo. O terceiro congresso da “cultura da alegria e da amorosidade” será no Equador, em 2017.
Além do anúncio do local do próximo congresso, a plenária realizada na manhã de sábado (31/10), último dia do evento em San Salvador, serviu para informar prioridades, tarefas e eixos de trabalho do Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária para o biênio 2015-2017.
O argentino Eduardo Balán abriu a plenária lembrando os anos de desenvolvimento do movimento de Cultura Viva Comunitária, o esforço de transformá-lo num projeto continental (com a realização do primeiro congresso, na Bolívia, em maio de 2013, “um acontecimento épico maravilhoso”), a ideia de criar um conselho latino-americano.
“Vimos que não se tratava apenas de fazer um congresso de dois em dois anos, e sim que deveria haver uma equipe latino-americana que todos os dias fosse apoiando, sistematizando e comunicando as diferentes lutas em todos os países, e em alguns casos protegendo”, comentou Balán, citando o assassinato do companheiro Victor Leiva, em 2011. Conhecido como El Mono, por suas habilidades acrobáticas, Leiva era um dos fundadores do coletivo Caja Lúdica. Morreu na Guatemala, baleado, “vítima das facções que geram violência em toda América Central”.
Grupos de trabalho
Ao enfatizar que não se trata de um órgão representantivo nos termos clássicos (já que a Cultura Viva Comunitária não é um fenômeno “representável” nos moldes tradicionais, com presidente, secretário), Balán se referiu ao Conselho Latino-americano como “uma equipe que trata de ajudar a alentar, visibilizar e empoderar tudo que vai acontecendo nos territórios”.
Para ter um “mínimo esquema organizativo”, o conselho definiu cinco grandes áreas de trabalho: a) legislação e políticas públicas; b) economia social; c) desarrollo territorial; d) formação; e) comunicação. Esses cinco temas foram escritos em cartazes afixados ao lado do palco da Concha Acústica. Todos os que ali estivessem e quisessem entrar nos grupos de trabalho deveriam anotar seus e-mails para participar das discussões. Vários brasileiros entraram nos grupos.
Criado durante o 1º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, na Bolívia, o conselho se reuniu em Buenos Aires em 2013, e em São Paulo, em novembro de 2014. Agora, foi a vez de San Salvador. A próxima reunião deve ser em Salvador (Bahia), durante a Teia, o grande encontro de Pontos de Cultura, em maio de 2016. O convite foi feito durante a plenária por Leandro Anton, do Quilombo do Sopapo (RS).
Alexandre Santini, diretor da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, também aproveitou o encontro para reforçar a proposta da criação de uma instância de participação da sociedade civil no programa IberCultura Viva, discutida dois dias antes na reunião do Comitê Intergovernamental.
Avaliação
A peruana Lula Martinez Cornejo leu a primeira parte do documento elaborado pelo grupo durante o congresso, com vistas à continuação das reflexões ali iniciadas, para que o conselho siga com o papel de articulador e facilitador dos processos de Cultura Viva Comunitária no continente.
Lula falou das prioridades e dos eixos de trabalho para 2015-2017, das avaliações sobre o funcionamento das comissões e, principalmente, da preocupação de o conselho recuperar sua natureza de “núcleo dinamizador” no que diz respeito ao fluxo de informação, às articulações, aos encontros, às incidências políticas.
“O Conselho Latino-americano de Cultura Viva Comunitária vem tendo uma importância simbólica chave, sobretudo nos processos de negociação com atores mais poderosos, do Estado, dos governos”, afirmou a ex-vereadora, autora da Lei Cultura Viva de Lima. “E as metodologias têm privilegiado a articulação, a produção do consenso, o que não seria possível se não estivéssemos cuidando também da irmandade, da escuta, da administração das complexidades que vêm surgindo nos distintos processos de construção em vários países.”
Comunicação, formação e sistematização são as três ações centrais para o conselho. E entre as prioridades está a constituição de espaços de intercâmbio, celebração, aprendizagem e organização em cada um dos países. Daí a importância dos congressos nacionais de CVC, dos festivais locais, das caravanas. Nas palavras de Lula: “Que avancemos em uma demonstração crescente de nosso movimento, num processo de empoderamento de todas as redes, de todos os atores”.