Cultura Viva Comunitária: Convivência para o bem comum

Por Jorge Melguizo*

(…) Incluir as Culturas Vivas Comunitárias nas decisões políticas e orçamentárias nos levará a incluir na sociedade os múltiplos projetos culturais que são feitos em nossos bairros e zonas rurais sem o Estado, apesar do Estado ou inclusive contra o Estado.

Nestas expressões culturais de bairro e rurais, múltiplas e diversas, está uma boa parte da cultura para a paz que necessitamos com urgência potencializar para que a convivência seja uma palavra que nos defina como sociedade.

O que entendemos por Culturas Vivas Comunitárias: [1]

Somos expressões comunitárias que privilegiam na cultura os coletivos e as pessoas, e os processos sobre os produtos, na realização da emoção e a beleza.

Somos um movimento latino-americano de arraigo comunitário, local, crescente e convergente, que assume as culturas e suas manifestações como um bem universal e como um pilar efetivo do desenvolvimento humano e social.

Nosso objetivo é conseguir que os governos destinem ao menos 0,1% de seus orçamentos nacionais e municipais a programas de Culturas Vivas Comunitárias. E buscamos a possibilidade de que os bens e programas públicos se construam em aliança real entre o Estado e as organizações sociais.

Foto: Platohedro Medellín
Foto: Platohedro Medellín

Na Declaração de La Paz sobre Cultura Viva Comunitária, dizemos:

“(…) A nova etapa das democracias e dos Estados latino-americanos requer a recuperação das experiências sociais e populares. A América Latina está em um momento de esperança depois de uma longa crise. Nos abre um panorama de restauração, no qual as experiências e organizações culturais comunitárias podem participar de processos de transformação novos e emancipadores.

(…) Propomos que em nossos países, a exemplo das organizações bolivianas, 18 de maio seja declarado Dia da Cultura Viva Comunitária, já que este encontro continental tem marcado a história comum de nossos povos, e o impulso da Semana Continental pela Cultura Viva Comunitária, de 12 a 19 de abril de cada ano”.

O que oferecemos:

Muitas das perguntas que nossas sociedades e nossos governos têm hoje têm respostas (e novas perguntas) nas Culturas Vivas Comunitárias. Nestes projetos culturais de bairros e rurais há cultura, certamente. Mas há também segurança e convivência, e há inclusão social, e habitação e desenvolvimento econômico e educação. E oportunidades. A transversalidade já está no bairro e nesses projetos culturais: o importante é que os governos saibam ver essa transversalidade e saibam atuar de maneira similar entre suas diferentes dependências. Cultura Viva Comunitária não é um projeto só para as áreas de cultura. Ao contrário: vai muito mais além e oferece seus conceitos, suas metodologias, seus resultados e seus produtos a muitas áreas de governo: segurança, educação, esporte, recreação, bem-estar social, desenvolvimento social, infância, juventude, terceira idade, mulheres, turismo, economia, inovação.

Foto: Nuestra Gente
Foto: Nuestra Gente

Nesses projetos já há alianças público-privadas-comunitárias: o desenvolvimento conceitual e metodológico destes coletivos culturais e artísticos, e seus próprios recursos, tem sido historicamente um investimento público, social, não quantificado e, portanto, não valorizada: valorizá-la, quantificá-la, reconhecê-la como aporte das comunidades aos projetos públicos de transformação de uma sociedade, de uma cidade, é um imperativo.

Estas organizações comunitárias não estão esperando que financiem seus projetos, não estão pedindo: estão oferecendo. Estão se oferecendo na construção de melhores caminhos sociais, de caminhos reais de transformação.

O que estão esperando essas organizações das Culturas Vivas Comunitárias, o que propõem aos governos e ao setor privado e ao setor acadêmico é a soma de recursos, dos dessas organizações comunitárias com os dinheiros públicos – que são de todos e vocês manejam temporalmente – e com os dinheiros privados, para produzir maiores e melhores resultados.

Além disso, o caminho percorrido por algumas cidades e países – e a velocidade que está tomando este projeto continental – permite gerar facilmente uma rede de aprendizagens, de cruzamento de conceitos, de conteúdos, de metodologias, de documentos, de legislações, de experiências, de pessoas e coletivos.

Foto: Son Batá Medellín
Foto: Son Batá Medellín

Tudo isso já existe, não há que criá-lo. Há que conhecê-lo. Há que escutá-lo. Há que aproveitá-lo, há que potencializá-lo. Há que colocá-lo em relação com outras áreas da sociedade.

Essas muitas alianças e redes locais, nacionais e internacionais que estão trabalhando para o fortalecimento do local a partir de e com a cultura se convertem por si mesmas em um grande pacto sem fronteiras que ajuda a superar os egoísmos, os interesses e as miopias locais e nacionais.

A oportunidade está servida. As possibilidades são todas. Se não investimos em cultura, como sairemos das crises?

Nos tempos que correm, a cultura se torna necessidade. E o mais importante: a cultura é agora, mais do que nunca, uma grande possibilidade e uma magnífica oportunidade.

* Jorge Melguizo é consultor e conferencista em gestão pública, projetos urbanos integrais e cultura. É assessor do Governo da Cidade de Buenos Aires em Habitação e Inclusão. Foi Secretário de Cultura Cidadã e Secretário de Desenvolvimento Social da Prefeitura de Medellín.
**Este texto é um trecho do artigo publicado no livro Cultura Viva Comunitaria: Convivencia para el bien común, lançado em El Salvador durante o 2º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária
[1] Tirado do Documento de Conclusões do Primeiro Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária”, La Paz, Bolívia, maio de 2013. http://es.scribd.com/doc/147877286/Conclusiones-Final-4
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